terça-feira, 7 de junho de 2011

Culinária

Os primeiros indígenas que provaram a comida de branco não gostaram. Dois deles, levados à nau capitânia e recebidos pelo próprio Pedro Álvares Cabral com muito prazer e festa, provaram o pão, peixe cozido, confeito, farteis (“massa de doce mais ou menos delicada, envolta numa capa de massa”, segundo a definição do Dicionário de Morais), mel, figos secos. Não comeram quase nada – é o depoimento da nossa primeira testemunha ocular da história, o Caminha. E, se provavam alguma coisa, logo cuspiam. Do vinho, mal provaram e não gostaram. Até a água serviu apenas para um bochecho. Gostaram do arroz e do lacão cozido, frio (fiambre), assim como aprovaram as facas de bom gume e fina ponta que os portugueses usavam como objeto pessoal e inseparável.
A gente da terra usava como colher, as conchas de mariscos.

Não gostaram – de início, pelo menos – foi do açúcar e dos estranhos temperos que fizeram os portugueses navegar, procurando o caminho marítimo para as Índias: cravo e canela, principalmente. Mas gostaram muito da aguardente de uva, assim como os brancos aprovaram a de milho, com a qual os homens da terra se embebedavam, no que eram acompanhados pelos portugueses. A primeira agricultura européia no Brasil foi baseada no conhecimento prático dos índios, seguindo-lhe os métodos e apenas introduzindo novas plantas e os animais domésticos. Mas a gente da terra não servia para a cozinha do branco, que foi obrigado a valer-se da escrava africana, negra.
“Mostraram-lhes (aos nativos) uma galinha; quase tiveram medo dela, e não lhe queriam pôr a mão. Depois lhe pegaram, mas como assustados.”

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