segunda-feira, 21 de março de 2011

Folclore do Amazonas

O estado brasileiro mais estudado e revisado é sem dúvida o Amazonas. Foi visitado por um sem número de naturalistas, artistas e viajantes, cada um destes, ao seu modo, contribuindo com o levantamento folclórico da região.

Na população branca e mestiça vivem os mitos europeus, com suas adaptações locais. Estórias da catequese misturam-se com tradições religiosas amerabas. O Mapinguari, invulnerável, morre com um tiro de cera de vela de altar onde se tenha rezado a Missa do Galo, a Missa do Natal. A cruz feita com palha benta do Domingo de Ramos afugenta das casas os duendes da mata. A grande população indígena, ouve, retém e transmite, já inconscientemente modificada, qualquer estória, multiplicando o mundo fantástico, criando novas versões de mitos já consagrados.

Os indígenas, ouvintes atentos por natureza, retém e transmite, mas já ligeiramente modificada, qualquer estória, o que acaba por multiplicar esse mundo do fantástico, dando novas tonalidades de acordo com sua imaginação criadora.

O folclorista Barbosa Rodrigues possuía uma pedra-de-chefe, a nefrita verde, "Muiraquitã" rara e disputadíssima, "tuixáua-itá"dos Tupis, a "nanaci" dos Tucanos, falsificada pela indústria na Inglaterra, vendida através das Guianas. Tratava-se de um pequeno cilindro de louça, imitando com perfeição o ornato usado pelas maiores autoridades indígenas. Essa pedra de "poder" de origem misteriosa mais valia que ouro ou qualquer outra pedra preciosa. Esse precioso amuleto viera aos índios Chirianás por troca com os Macuxis de Rio Branco.

Os mitos levados pelos portugueses povoadores se misturaram aos já existentes, aumentando assim a grande cena mítica do Amazonas.

Nenhum mito, no entanto, escapou à influência do elemento nordestino, o grande desbravador das matas e rios, vencedor das assombrações. Com as histórias de fantasmas já fazendo parte da sua tradição, modifica tudo que foge à sua compreensão, refazendo ao seu modo, os mitos já existentes. Assim, o Caapora como foi visto, gigantesco, guiando a caça, orgulhoso de poder, insensível ao pedido humano, protegendo os bandos de porcos, os veados, cotias e antas, castigando o matador, esse Caapora que briga com o jabuti, protetor dos animais da mata virgem.

Ninguém conhece em toda a Amazônia. Aquele que manda, conversa, pune e castiga é a Caipora, caboclinha ameninada, com os cabelos duros e negros até os joelhos, que gosta de fumo e adora o caçador que para lhe demonstrar respeito entrega-lhe a caça, como a CaaManha do Paraguai e Uruguai com os colhedores de mate. Essa Caipora feminina, poderosa, é um trabalho nordestino, de deturpação e de popularidade.

Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, que exportaram milhares de homens, sacrificando mesmo o equilíbrio social de suas terras de origens, também acabaram por exportar para aquelas terras distantes, juntamente com seus filhos, seus mitos. Chagando nas terras amazônicas os mitos se disseminaram quase sem modificações, ganhando aqui e ali pequenos retoques locais, mas sem o comprometimento do seu formato original.

Assim, as influências étnicas da região amazônica, estão assim distribuídas: Os brancos com o contingente nordestino fazem o primeiro núcleo, os indígenas pelo volume o segundo mesmo sendo dependentes do primeiro, os negros contribuem apenas com leves traços de sua presença, mais voltados aos aspectos das tradições religiosas, mas, ainda assim dentro dos dois grupos anteriores.

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